
A Ópera de Arame é um dos pontos turísticos mais icônicos de Curitiba, sendo admirada por sua arquitetura singular e integração com a natureza. Projetada pelo arquiteto Domingos Bongestabs em 1991, a estrutura foi construída em apenas 75 dias e inaugurada em 18 de março de 1992. Posteriormente, passou por uma reforma em 2006, garantindo sua preservação e adequação às necessidades modernas.
Na década de 1990, as pesquisas mostravam que os curitibanos preferiam ficar em casa, já que a cidade oferecia poucas opções de lazer ao ar livre, como o Passeio Público, que era o único parque existente na época. Para incentivar a população a ocupar os espaços públicos, a prefeitura começou a investir em projetos inovadores, sendo a Ópera de Arame um dos resultados dessa política.
O então prefeito Jaime Lerner, interessado em criar um teatro específico para a prefeitura, aceitou a sugestão de seu assessor Constantino, que ao visitar o local, identificou o espaço de uma pedreira desativada como ideal para a construção. Logo então, Lerner convidou Domingos Bongestabs para desenvolver o projeto. Desde o início, ficou evidente que o teatro não poderia seguir um modelo convencional.
A proposta inicial previa uma experiência clássica, o que preocupou Domingos, um arquiteto modernista. Ele propôs um conceito inovador: um teatro transparente e integrado à natureza, permitindo que os espectadores, ao assistirem aos espetáculos, também pudessem contemplar a paisagem ao redor. Inicialmente, Domingos considerou utilizar lona na cobertura, mas, ao perceber que essa solução seria inviável, optou por acrílico no teto e vidro nas paredes. Essa escolha proporcionou o equilíbrio perfeito entre funcionalidade e harmonia com o ambiente.

Domingos também era professor de acústica e escolheu o formato circular para a Ópera de Arame, garantindo uma experiência imersiva. Esse design oferecia a melhor visão do palco a todos os espectadores e reforçava a conexão entre o espaço interno e a paisagem natural. Nas paredes, é possível notar discretamente fissuras inspiradas na estética grega, que estavam em alta naquele período.
A rapidez na execução foi essencial, pois o teatro deveria ser inaugurado para o Festival de Teatro de Curitiba. Na época, todo o projeto foi desenhado à mão, sem o auxílio de computadores, tornando a agilidade e precisão do trabalho ainda mais impressionantes.
Para Domingos, a Ópera de Arame foi mais do que um projeto arquitetônico: foi um marco de reconciliação com o meio ambiente. Por se tratar de uma pedreira desativada, ele via a construção como um gesto de cura e reparação da natureza. Em suas palavras: “Era um espaço ferido; o homem feriu aquele espaço. Essa reconstrução, esse reaproveitamento de espaço com o teatro é, de certa forma, um pedido de perdão.”
A Ópera de Arame foi reconhecida pela revista AU – Arquitetura e Urbanismo como uma das dez obras mais importantes da arquitetura brasileira no século XX. Mais do que um ícone de Curitiba, a Ópera é um patrimônio arquitetônico de relevância nacional, representando a união entre cultura, arte e respeito à natureza.
Confira na íntegra a entrevista com o arquiteto Domingos Bongestabs:
Dezirre Nicoli